18 de agosto de 2023 | viníciux da silva e Luís Matheus Brito
Roteiro da primeira ação performática de Fuga Interrompida
Se, de antemão, pensarmos na representação de leitores e leitoras do roteiro comentado de Fuga Interrompida, uma fala-performance de viníciux da silva, podemos pensar — para fazer uma alusão a Ricardo Piglia — em quem se perde numa rede de signos. E a razão pela qual se perdem, leitores e leitoras, é a seguinte: os círculos, as rasuras, as setas, os sublinhados e as outras formas feitas a caneta que acompanham os versos dessa versão do roteiro; isso forma um conjunto de instruções que aperfeiçoa e auxilia a execução do trabalho, mas que, é óbvio, danifica o papel.
O roteiro é um poema dividido em prelúdio e três atos — “a grande ruptura (quando a matéria é a voz)”, “o sopro da res” e, por último, “habitar o dentro (coreografias de fabulação crítica)” — e, sozinho, corresponde à primeira ação performática do projeto. De seção em seção, saltamos de zonas nas quais o sentido está suspenso para zonas nas quais as referências, como abigail Campos Leal e Jota Mombaça, adaptam-se ao ritmo visual — no geral, às quebras de linha e aos espaçamentos entre as estrofes. Mas há, sempre que possível, uma “recusa à transparência”.
A voz — na verdade, as vozes do ato performático cortejam o fim do mundo como o conhecemos — nas palavras de da silva, o abismo do mundo colonial: “vocês conseguem ouvir?/ O som das minhas profecias,/ vocês conseguem ouvir?”, repetem.
No roteiro comentado, a artista e pesquisadora interveio de modo variado, até que, diferenciando os grifos, construiu legendas próprias. Isto é, ela pode se perder tanto quanto os leitores. E o que interessa em nosso caso, no lugar da performance, é o material que estava destinado ao descarte ou à invisibilidade no espaço privado: o arquivo. Ao mesmo tempo, interessa a desorientação causada pela leitura de material no qual as palavras também pululam, por conta das intervenções, fora das estrofes e margens.
Sobre os atos performáticos
A fala-performance de viníciux da silva faz parte de Fuga Interrompida, projeto multidisciplinar e programa performativo que envolve filme, performance e pesquisa sobre noções de fugitividade, recusa e colapso, por exemplo.
Roteiro
viníciux da silva.
Participantes da performance
Ato 1: Angie Barbosa, JARDES, Julien Cortes, Tuca Mello e viníciux da silva;
Ato 2: Tuca Mello e viníciux da silva.
Curadoria
Daniela Avellar.
Local
Galeria Refresco, Rio de Janeiro.
Ato Dois da fala-performance Fuga Interrompida, na Galeria Refresco (Fotografias: Katianne Berquiolli e viníciux da silva)
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viníciux da silva é artista, pesquisadora e tradutora. Escreve sobre, ensina e trabalha com arte e curadoria contemporâneas, pensamento negro-trans/travesti radical, epistemologias feministas negras, anarquismos transviados e cinema negro experimental.
Luís Matheus Brito (1994) é poeta, ensaísta e mestra em Estudos Literários pela UFS (Universidade Federal de Sergipe). Publicou Guia de Queixumes (edições blague, 2021). Edita a Tilápia-azul.